Para
um partido que já arrecadou mais de 1 bilhão de reais em recursos de campanha,
o que representam 200 milhões? É em torno dessa quantidade de fundo público que
as principais legendas do País deverão receber, individualmente, para bancar
candidaturas ao Legislativo e ao Executivo neste ano.
O fundo público de campanha foi criado no
fim do ano passado para preencher a lacuna deixada pela proibição do
financiamento de campanha por pessoas jurídicas. A quantidade é, porém,
significativamente menor do que os valores com que os partidos estavam
acostumados a trabalhar.
Nas eleições de 2014, que tiveram tempo de
campanha maior e foram largamente financiadas com recursos privados, o PT
declarou ter gasto 1,121 bilhão; o PSDB, 1,038 bilhão, e o MDB, 783
milhões.
Para Emídio de Souza, tesoureiro do PT, os
recursos atuais são escassos. “Não é suficiente para uma campanha eleitoral.
Mas é o que temos, e vamos trabalhar dentro disso”, diz. A vaquinha virtual
para a campanha de Lula, a mais bem-sucedida até agora, arrecadou 330 mil reais
em microdoações.
Quanto irá para cada nome ainda não foi
fechado, mas há uma “prioridade clara” para os candidatos a deputado federal.
Após o trauma do impeachment, o PT quer manter a maior bancada da Câmara Baixa,
com 61 parlamentares. “O mais estratégico agora é Câmara.” Em termos de gastos,
somente depois dos deputados e da candidatura do ex-presidente Lula, atualmente
preso, virão os projetos de reeleição dos atuais governadores petistas, no
Piauí, Bahia e Acre.
Para Renato Ramos, advogado do MDB que atua
diretamente na frente eleitoral do partido, as novas regras eleitorais criaram
uma indefinição com a qual nenhum partido sabe lidar. “Ainda está muito
abstrato, os partidos estão perdidos”, afirma.
“As eleições anteriores eram encabeçadas
pelo PT. Ficávamos de fora do dia-a-dia em si [da campanha].” Com o histórico
de apoiar outras candidaturas a presidente, o MDB teria perdido o costume de
gerir seus recursos? O advogado se corrige. “O problema não é a experiência com
a administração de dinheiro, é a ausência de dinheiro.”
Os 232 milhões do fundo público de campanha
serão praticamente a única fonte de financiamento do partido até outubro,
segundo Ramos. Ele admite que “não dá para pagar o teto de todo mundo”, mas
que, sem novidades no método, o partido irá privilegiar as candidaturas ao
Congresso. A princípio, trabalham com 1,5 milhão de reais para as campanhas a
deputado e 2 milhões para os postulantes ao Senado.
Também como de costume, o dinheiro
permanecerá entre a cúpula emedebista, mas o tempo de TV — que ainda segue em
aberto, mas deverá ser o maior entre os partidos — deve virar moeda de troca
para fechar coalizões nos próximos meses.
Já Sílvio Torres, deputado federal por São
Paulo e tesoureiro do PSDB, acredita que dinheiro não é problema, devido ao
tempo proporcionalmente mais curto de campanha. “Havia muito excesso [nas campanhas
anteriores, com financiamento de empresas]. Não é difícil de se adaptar [às
novas regras].”
A executiva nacional do partido pretende se
reunir na terça-feira que vem para fechar uma proposta para apresentar ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral). Trabalham com uma “regra dos terços”: um terço
do fundo para a candidatura à presidência de Geraldo Alckmin, um terço para os
doze candidatos a governador e outro para os aspirantes ao Congresso. A cúpula
tucana quer ampliar de 49 para 60 os seus deputados federais.
Aposta certa
Não
à toa os três grandes partidos priorizem as vagas no Congresso Nacional. Com
menos dinheiro para arriscar com cargos majoritários, o investimento com mais
chances de eleição está no Parlamento.
“No Legislativo, isso é bem direto: quanto
mais dinheiro o candidato declarou ter gasto, mais votos teve”, explica o
cientista político Fernando Guarnieri, da Uerj (Universidade Estadual do Rio de
Janeiro). Os dados das eleições passadas mostram que haveria um valor mínimo
para viabilizar a eleição em qualquer cargo. Em 2010, por exemplo, nenhum
candidato a deputado federal se elegeu com menos de R$ 100 mil investidos na
própria campanha, segundo levantamento da ONG Transparência Brasil.
Segundo Alberto Rollo Jr., advogado
eleitoral, o caixa dois eleitoral já deve estar em pleno vapor a esta altura do
ano — mesmo com maior fiscalização e com quatro anos de Lava Jato. O maior
gargalo que permite a continuidade da prática, segundo ele, é a ausência da
obrigatoriedade de registro dos gastos da pré-campanha, que já começaram.
É comum que os contratos na pré-campanha
sejam fechados por fora e declarados apenas parcialmente na prestação de contas
final, após o pleito. Os gastos com maketing político, que estão
entre os mais volumosos, costumam ser feitos nesse esquema. “Marqueteiro
é peso de ouro [nas contas partidárias]. Na pré-campanha, ninguém tem que dar
satisfação.”