Em 81 páginas, o plano de governo de Jair
Bolsonaro não apresenta soluções concretas para os problemas do país, fala o
tempo todo de "Deus" e se apega a discursos vazios como "acabar
com a doutrinação marxista" e a influência do "Foro de São
Paulo"; ao falar de segurança, o candidato chama o golpe de 1964 de
"revolução", propõe porte de arma aos cidadãos e redução da
maioridade penal. Saiba mais
Jair Bolsonaro (PSL-RJ) oficializou, nesta
terça-feira (14), sua candidatura à presidência da República e divulgou seu
plano de governo. Intitulado “O caminho da prosperidade”, o plano do deputado
federal para o país mais parece um grupo de Whatsapp de direita em forma de
documento, com ideias superficiais, sem propostas concretas para resolver os
problemas do país, acusações infundadas à esquerda e ao PT, menção à “Deus” o
tempo todo e teses conspiratórias que sequer são levadas a sério pela direita
liberal e que só são observadas entre os apoiadores que chamam Bolsonaro de
“mito”, como a “doutrinação marxista”, segundo o candidato, presente no Brasil,
ou a influência do “Foro de São Paulo”.
Com um versículo
bíblico, o plano do militar da reserva começa com a proposta de um governo
“decente” e com a defesa da propriedade privada. “Seu celular, seu relógio, sua
poupança, sua casa, sua moto, seu carro, sua terra são os frutos de seu
trabalho e de suas escolhas! São sagrados e não podem ser roubados, invadidos
ou expropriados!”, diz o documento.
O plano segue
fazendo uma enfática defesa da “família” e salientando que o candidato é contra
“qualquer regulação ou controle social da mídia” – dizendo, em outras palavras,
que manterá os monopólios e oligopólios midiáticos que sufocam a pluralidade de
opiniões no Brasil.
As teorias
conspiratórias típicas de grupos de Whatsapp começam a ganhar mais destaque no
plano de governo de Bolsonaro quando é citado que nos últimos 30 anos o país
esteve submetido ao “marxismo cultural e suas derivações como o gramcismo”, que
teriam, segundo o candidato, minado “os valores da Nação e da família
brasileira”. O documento não chega a dizer que “a nossa bandeira jamais será
vermelha”, como dizem alguns reacionários que remetem ao período da Guerra
Fria, mas usa outras palavras: “Queremos um Brasil com todas as cores: verde,
amarelo, azul e branco”.
O plano de governo
segue com uma narrativa falaciosa ao afirmar que o Brasil foi governado pela
esquerda nos últimos 30 anos e afirma que um eventual governo de Bolsonaro
“enfrentará o viés totalitário do Foro de São Paulo” que, segundo o candidato
do PSL, teria “enfraquecido as instituições democráticas”.
Economia
Ao introduzir o
assunto “economia” no plano de governo, Bolsonaro segue com mais imprecisões: o
candidato afirma que o Brasil “nunca” adotou, em toda a sua história, os
princípios liberais que, segundo ele, serão mote de sua gestão na área
econômica. O militar da reserva só não citou, no entanto, que os governos de
FHC nos anos 90 foram marcados pelas privatizações, uma das principais marcas
do liberalismo econômico. O deputado federal, inclusive, reafirma que
trabalhará com as privatizações, sem especificar, no entanto, quais empresas e
nem quantas pretende privatizar.
Neste ponto, o
plano de governo credita ao “legado do PT”, de “ineficiência e corrupção”, o
fato de que há uma previsão de déficit primário de R$139 bilhões para 2019,
utilizando um gráfico que mostra a evolução do déficit desde 2015. O próprio
gráfico, no entanto, desmente o candidato quanto ao “legado do PT”. O déficit
começa a crescer, de fato, a partir de 2015, ano em que Dilma Rousseff assume
seu segundo mandato e começa a ter seu governo paralisado pela oposição, que
não aceitou o resultado das eleições. No ano seguinte, Dilma sofreu o
impeachment que Bolsonaro apoiou e o déficit seguiu aumentando, como mostram os
dados apresentados pelo próprio candidato.
A principal
proposta de Bolsonaro para a área econômica, segundo seu plano de governo, é a
criação do Ministério da Economia. “Para atender ao objetivo de enxugamento do
Estado, mas, também, para garantir um comando uno e coeso para a área, o
Ministério da Economia abarcará as funções hoje desempenhadas pelos Ministérios
da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio bem como a Secretaria Executiva
do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). Além disso, as instituições
financeiras federais estarão subordinadas ao Ministro da Economia”, diz o
texto. A proposta remonta a uma medida fracassada adotada por Fernando Collor.
Segurança Pública e elogio à ditadura
Com relação à
Segurança Pública, Bolsonaro propõe, em seu plano de governo, medidas que
tradicionalmente constam naqueles grupos de Whatsapp de direita e que têm pouco
ou quase nenhum fundamento prático: fim dos “saidões” – permissão que presos
têm para deixar a cadeia em datas como o dia das mães e o dia dos pais -,
redução da maioridade penal para 16 anos e, claro, a facilitação do porte de
arma. Até mesmo as frases de seu plano de governo remetem à bordões da direita
populista: “Prender e deixar na cadeia!”.
Quanto ao porte de
arma, o plano de governo de Bolsonaro cita a experiência de países com contexto
social completamente diferente, como Suécia, Noruega e Finlândia.
Ainda no trecho em
que fala sobre Segurança Pública, o candidato propõe criar um panteão
homenageando os policiais mortos em ações na rua e faz uma homenagem às Forças
Armadas do Brasil por terem impedido um “golpe comunista” com o que ele chamou
de “Revolução de 1964”.
Educação
Na parte de
Educação, a principal proposta de Bolsonaro é, mais uma vez, uma reprodução do
discurso vazio antipetista: acabar com a “sexualização e doutrinação precoce”
nas escolas.
Confira a íntegra
do “plano de governo de Whatsapp” aqui.
Fonte: Revista Forum
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