Conhecido por
declarações polêmicas na Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado estadual
Pastor Sargento Isidório (Avante) vai assumir mandato na Câmara, em fevereiro,
na condição de deputado federal mais votado de seu estado, com 323.264 votos.
Antes mesmo de chegar ao Congresso, Isidório já chama a atenção.
O pastor da
Assembleia de Deus e sargento da Polícia Militar diz que não vai integrar duas
das mais poderosas frentes parlamentares da Casa, a evangélica e a da segurança
pública, também conhecida como bancada da bala. O motivo, segundo ele, é o
apoio dado pela maioria dos colegas evangélicos e militares à candidatura de
Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência.
Para o
parlamentar baiano, não há como conciliar o discurso de Bolsonaro, que
contempla o armamento da população e a anistia para policiais que matarem em
serviço, com a fé cristã. “Quem lê a Bíblia sabe que Jesus disse 'amai-vos uns
aos outros'. Não tem lugar nenhum Jesus dizendo para matar. Tem um bocado de
evangélico defendendo isso”, critica.
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“Existe a
possibilidade de ganhar a eleição quem está pregando que polícia que não mata
não é polícia, derramamento de sangue e tortura. Estou preocupado. Duvido que
os oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica queiram voltar para a ditadura”,
explica.
Mudança
de opinião
Pastor Sargento
Isidório critica também a ausência do candidato do PSL nos debates. “Sou
militar, eu tinha tudo pra apoiar o Bolsonaro, mas quando vi ele não ir a
debate e fazer discurso que ofende jornalista e mulheres, tudo isso fez eu
decidir meu voto”, afirma.
O pastor diz que
tinha ressalvas à candidatura de Fernando Haddad (PT), mas mudou de ideia após
conhecer melhor o petista. “Votarei no Haddad, ele não é o homossexual que eu
pensava. É casado há 30 anos com a mesma mulher, tem filhos. Tudo que eu
pensava foi desconstruído. Procurei ver os vídeos, a gente sabe que é tudo fake
news”, justifica.
"Ex-gay"
A relação de
Isidório com a comunidade LGBT é conflituosa. Ele se identifica como ex-gay e
já afirmou em várias ocasiões que teme recaídas. O pastor condena a LGBTfobia,
mas afirma ter uma “luta grande contra a homossexualidade”. “Eu não defendo a
cura gay porque fica parecendo que são doentes, eu defendo a libertação, que eu
sou exemplo disso. Cada um faz o que quer com seu corpo, só não pode se queixar
com Deus. Não pode ser violentado, não podem ser excluídos nem espancados ou
mortos, porque são pessoas que têm vida, que pagam impostos, são seres
humanos”, afirma.
O militar conta
que deixou de ser homossexual há pouco menos de 30 anos. Na época, afirma, era
alcoólatra, fazia uso de maconha e “planejava assaltos”. A mudança de vida,
segundo ele, veio por meio da religião. “Conheci a palavra de Deus através da
Bíblia e passaram as coisas velhas, a Bíblia diz que nenhuma condenação para
quem está em Jesus Cristo”, explica. Ele também atribui a cura do HIV à fé,
embora nunca tenha feito exame para confirmar se de fato possuía o vírus.
Isidório afirma
pregar o mesmo pensamento de libertação e perdão na Fundação Dr. Jesus,
instituição que administra em Candeias (BA) para tratamento de dependentes
químicos. O combate às drogas é uma das principais bandeiras do parlamentar. A
instituição apareceu na campanha de Isidório à Câmara dos Deputados, na qual
ele se autointitulou como “doido federal”. Em um vídeo conjunto com o filho
João Isidório, eleito deputado estadual pela Bahia, o pastor dança e faz
acrobacias ao som de “Agora é a vez do doido/O maluco quer acabar com
as drogas”.
Isidório alega
que não tem medo da polêmica de ser o “doido federal” e que o uso do jingle foi
estratégico. “Claro que, para ser visto, tinha de chamar atenção. Mas eu luto
por alguma coisa, luto por hospitais, contra as drogas”, finaliza.
(Congresso em Foco)